Na eleição passada para prefeito em Caetité, circulou, durante a disputa eleitoral uma foto ridiculamente manipulada. Ao que parece a foto satirizava um dos candidatos que parecia não arrebatar tantos eleitores como o seu discurso mostrava. Uma amiga acusou-se de ser o responsável pela foto, isso porque eu a reproduzi na minha página do face.
Mas esta foto não fui eu que a “fiz”. Não
tenho fotoshop, nem talento para lidar com estas modernidades. Tudo isso está
longe do meu alcance. Também não ando metendo gente onde não existe e
maquilando a realidade. Para isso bastam os políticos. Tenho mais o que fazer.
O que me interessou nesta foto foi a
possibilidade de discutir como a fotografia pode ser usada para construir uma
realidade e colher com isso melhor resultados perante a opinião publica.
Devemos todos estar atentos a isso.
Estudo fotografia a sério. Por isso
quando vi a imagem pensei logo na celebre foto de Mathew Brandy que sabendo do
poder da imagem para distorcer a realidade, tratou de dar um jeito no
desengonçado candidato à presidência dos EUA Abraham Lincoln, quando este veio
bater a sua porta para um registro fotográfico, naquela que foi a primeira
campanha política em que uma foto foi usada como propaganda.
A fotografia nem bem estreava no mundo e
os políticos já a usavam para distorcer a realidade. Até aí nenhuma novidade.
Os políticos estão sempre na vanguarda da malandragem.
Mathew Brandy cuidou no registro de
Lincoln de disfarçar o seu pescoço desproporcional levantando a gola do
colarinho. Também melhorou a sua face retocando os sulcos com maquiagem. É
sabido de todos, menos dos eleitores, que Lincoln era banguela. Para parecer
imponente e dar uma estampa de candidato sério, Brandy fotografou Lincoln em
plano americano (meio-corpo). Nessa perspectiva ele camuflou a sua silhueta do
lenhador magricela, pouco confiável ao posto de chefe de Estado da emergente
potência.
A foto foi um sucesso. Caiu no gosto do
povo. Todos ficaram impressionados com a figura esquia do postulante ao cargo
de presidente.
A partir daí, todos que sucederam
Lincoln na Casa Branca trataram logo de usar os mesmos artifícios.
O caso mais emblemático foi o de
Franklin D. Roosevelt. Vítima de poliomielite aos 39 anos, ele pôde contar com
a conveniência dos fotógrafos da época para encobrir o fato de que só conseguia
se locomover em cadeira de rodas. Isso sem que a opinião pública jamais
chegasse, a saber, de sua condição de saúde. Em seus 12 anos de poder Roosevelt
jamais foi mostrado em sua real condição física.
Ao ver a foto na página de um amigo quis
trazê-la ao meu espaço para poder discutir, de forma desapaixonada, o poder das
imagens na construção de realidades questionáveis. A mim pouco importa que
candidato x ou candidato y faça o que faça, interessa-me estar atento e não me
deixar embasbacar com massas.
Mais do que mostrar a realidade, a
fotografia quer nos fazer acreditar numa narrativa visual que parece séria.
Porém, como qualquer discurso ela está prenhe de interesses e cabe a nós
aceitá-los ou não.