Os sinos de minha infância

Foto: Vista noturna da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Malta, Paraíba.

Não vai longe o tempo em que os sinos das igrejas eram um valioso instrumento de comunicação. Esses monstrengos que habitam sozinhos as torres das Igrejas Católicas davam à população toda espécies de notícia. Hoje reduzido as suas funções, esses valiosos instrumentos comunitários, servem apenas, quando muito, a marcação das horas e anúncio das missas dominicais. Contudo, a memória do seu uso nos tempos de antanho estão associadas aos mais curiosos e saborosos ritos e usos coletivos. Pelas características do toque, sabia-se quando um membro da comunidade falecia. As badaladas ritmadas informavam se o morto era homem, mulher ou anjinho. Em um estudo que li sobre a etnografia dos sinos o autor atesta que as badaladas informava ainda às comunidade do passado, sobre toda sorte de perigo que rondava os vilarejos dispersos por um vasto território. Os sinos eram como espécies de protetores. Eventuais perigo, como de fogo, invasão, saqueamento, e outros males que se aproximavam ameaçadoramente eram, nos tempos remotos do mundo feudal, prenunciados pelas rebatidas dos sinos. Isso não existe mais. Muitos sinos foram substituídos nas Igrejas por aparelhos sonoros que imitam as badalados de forma artificial. O fogo, os saques e os invasores resolve-se com outros recursos que chegam bem antes dos sinos saberem. Os sons genuínos que ecoavam nos campanários reluzentes são hoje longínquas memórias perdidas no labirinto de nossas lembranças afetivas de um tempo que o tempo se encarregou de mudar. Uma de minhas mais antigas recordações de infância está ligada aos sons dos sinos da Igreja Matriz de Nossas Senhora da Conceição na cidade de Malta na Paraíba. Quando miúdo me lembro de ouvir os sons desses canários de aço, convidando as pessoas da cidade a preservarem sua fé, madrugando na primeira missa do dia. A partir das cinco horas da manhã os sinos iniciavam suas implacáveis súplicas pela visita dos fiéis. Eles só cessavam de badalar às seis horas, quando os bancos da igreja já estavam ocupados por todos que importavam com os ritos católicos, diga-se aí, toda a comunidade. Não faltava ninguém. Inclusive as vovozinhas e seus netinhos relutantes, que não percebia por que, havia sido arrancado mais uma vez de casa tão cedo, para ouvir a missa, quando se sabia que missa tinha todos os dias.   

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